Coloquio

Edición Nº59 - Diciembre 2022

Ed. Nº59: Centro Cultural Judaico Rua da Judiaria e JCC Lisboa: Preservando o passado e motivando o futuro judaico com sustentabilidade ográficas

Por Luciano Waldman

Breve história da Rua da Judiaria

A “Judiaria” -a rua judaica de Lisboa- é o último local judaico da Idade Média em Lisboa. Depois que o reino português retomou Lisboa em 1147, foram estabelecidos bairros para judeus e muçulmanos. Entre 1147 e 1498 existiam quatro judiarias, a judiaria da Pedreira, a judiaria Pequena, a judiaria Grande e a judiaria de Alfama. A judiaria de Alfama foi a última judiaria a ser construída em Lisboa, por volta de 1373-1374.

A Judiaria de Alfama foi residência e local de trabalho de muitos judeus, o local mesmo com muitas controvérsias também albergou uma sinagoga. Após a expulsão dos judeus e a conversão forçada ao cristianismo dos que ficaram em Portugal, estes bairros começaram a perder as suas características. As sinagogas foram convertidas em igrejas, as casas judaicas foram cedidas à Igreja e aos nobres. E assim, com o tempo, a forma das ruas e seus nomes foram modificados. No caso de Lisboa, o fator que mais influenciou a destruição das judiarias foi o terremoto de 1755. Durante a reconstrução da cidade após o terremoto, as judiarias foram completamente modificadas para abrir ruas mais largas e construir-se edifícios maiores. O único local histórico medieval sobrevivente foi a Rua da Judiaria, em Alfama. Os outros sítios históricos são dos séculos XIX e XX; sendo que muitos deles não sobreviveram ao tempo devido à falta de sensibilidade histórica.

 

Como o projeto começou

 

O projeto começou de forma muito ingênua e se desenvolveu de forma orgânica entre amigos no afã de atender as necessidades da comunidade que comparecia. Meu nome é Luciano Waldman, nasci no Brasil. Com quinze anos de idade emigrei para Israel e lá construí minha vida. Em 2016 fui para Portugal fazer um mestrado em arqueologia e, pouco a pouco, fui me envolvendo mais com a vida judaica portuguesa. Eu escolhi Portugal para aperfeiçoar a minha vida acadêmica e simultaneamente desfrutar uma fase diferente na minha vida e, é óbvio, que o idioma influenciou a escolha. No início vivi no norte de Portugal entre as cidades de Braga e Porto e, depois de dois anos, fui residir em Lisboa.

 

Como judeu praticante e arqueólogo de formação acadêmica, desde o início procurei vida e a história judaica de Lisboa. Além disso, ao chegar em Lisboa, procurei emprego e moradia. Nesse cenário, em 2018, comprei um apartamento na Rua Judiaria de Lisboa com o objetivo de viver e abrir um pequeno negócio. Com isso, comecei a fazer pequenos eventos judaicos, como Shabat, reuniões e algumas festividades judaicas. Com o objetivo de reviver a rua, a maioria destes eventos eram feitos na Rua da Judiaria.

 

No primeiro ano, o pequeno grupo de amigos começou a crescer e cada vez mais pessoas começaram a se engajar nos eventos e a Rua da Judiaria começou a se tornar mais que um grupo de amigos que buscavam judaísmo. Em 2019 abri a instituição Centro Cultural Judaico Rua da Judiaria. Muitos fatos aconteceram no caminho, enfrentamos o Covid19, algumas hostilidades, turbulências políticas e diversos desafios, mas ao final crescemos em todos os aspectos. Um dos belos reconhecimentos que tivemos foi do JCC Global, quando no início de  de 2022 nos tornamos uma instituição oficial afiliada.

 

Nossa missão

 

A nossa missão é reconstruir a vida judaica da última rua medieval judaica localizada na Rua da Judiaria de Lisboa para institucionalizar um local de aprendizagem, celebrações e ligações entre diferentes culturas e o Judaísmo. Tudo isso, com o objetivo de ser um local de enriquecimento espiritual e intelectual, onde indivíduos e famílias possam encontrar ideias, princípios, práticas e valores judaicos e ter contato com Israel. Além disso, oferecer a todos a oportunidade de explorar o ideal do povo judeu em suas vidas. Atuar sempre de forma democrática e plural para gerar um diálogo saudável dentro da comunidade judaica e com a comunidade em geral. Sem, contudo, esquecer de promover a cultura judaica portuguesa sefardita em todas as suas especificidades para a preservação da memória e identidade judaica no seu património material e imaterial. 

 

E como faremos isso

 

De forma prática, por meio de eventos e atividades religiosas que visam suprir as necessidades cotidianas dos judeus. Promovendo assim, uma rotina de vida judaica que estimule a interação entre diferentes grupos no sentido de confraternizar e construir uma comunidade judaica pluralista e democrática. Para este ano, por exemplo, nossas atividades se resumem em palestras, exposições, voluntariados, demonstrações de projetos, sessões de cinema, chagim, shabatot, shiurei Torá, participação em conferências e auxílio aos novos imigrantes.

 

As perspectivas futuras do projeto

 

Nos dias de hoje, os deveres de uma instituição judaica vão além de perpetuar a religião judaica, temos de preservar nosso património histórico, buscar uma interação saudável com a sociedade em geral, investir em educação no sentido de proporcionar as novas gerações uma educação judaica, investir na preservação de tradições regionais, incentivar o dialogo no sentido de fazer conhecer nossa cultura e tradições, diminuir a distancia entre as comunidades e Israel, fazer diferentes ideias serem ouvidas para criar novos meios de envolver diferentes públicos nas comunidades, encontrar meios e métodos para que lideres consigam estar engajados em projetos e terem subsistência, dinamizar as comunidades, criar comunidades que sirvam como  espaço fértil para o desenvolvimento de ideias, encontrar o equilíbrio entre modernidade e a história judaica, combater o antissemitismo, aproximar os mais velhos e aos mais jovens.

 

As comunidades, cada vez mais, estão a se tornar uma afluência de diferentes tipos judeus, não pela prática de diferentes linhas religiosas, mas sim pelo fato de haver mais emigração e imigração. Judeus e israelitas no geral possuem vidas dinâmicas, vivem em diferentes países e buscam diferentes oportunidades independente da geografia. Diante dessa complexidade, somos obrigados a ter uma visão mais apurada com ações mais imediatas. Com isso, desejamos crescer para tornar totalmente sustentável o projeto, expandi-lo e oferecer mais opções da vida judaica e ajudar outros projetos.

 

A ambição deste projeto é no sentido de demonstrar que se pode melhorar e incentivar o judaísmo através de iniciativas particulares sem estarem dependentes por grandes instituições ou pelo governo. É desejar também fugir de políticas e acreditar que através de diferentes ideias se pode construir outras realidades e melhorar o mundo de alguma maneira.

 

Todos sabem que as sociedades se tornaram cada vez mais dinâmicas, tecnológicas, multiculturais e pluralistas.  Com isso, não há mais atualmente verdades e modos absolutos. O mundo ficou mais flexível para atender pessoas diferentes em lugares diferentes.  

Luciano Waldman é arqueólogo e historiador. Ele é o fundador e diretor da Centro Cultural Judaico Rua da Judiaria